domingo, 14 de fevereiro de 2010

Patrulha ao Sobado de CHINJONGO

Após a transferência das viaturas para a margem esquerda do Zambeze, estavam reunidas as condições para iniciar a exploração do vasto território que se estende de Lambala até Lucusse.
Numa primeira patrulha vamos visitar o Soba CHINJONGO, cujo Sobado está localizado num ponto estratégico de passagem entre Luena,(norte de Cameia) e a grande região do Lunguébungo, a sul e que dá ligação à Zambia.
Mas continuemos o nosso percurso até ao Sobado de Chinjongo. Só lá podemos ir na época seca.
Vamos percorrer a grande "chana"• do Lucusse, delimitada a norte pelo Luena, a sul pelo Lumbala, a nascente pelo Zambeze, de que os outros dois rios são afluentes pela margem direita, e a poente pelas terras de Lucusse.
• Nota: -"chana" ou "anhara" (grande planície sem alterações de cota de nível, que, na época das chuvas, fica totalmente submersa por um lençol de cerca de meio metro de água que extravasa dos rios limítrofes e onde se reproduzem peixes que, em escassos dois meses ou menos, atingem dimensões e quantidades verdadeiramente fenomenais).

Com partida pela madrugada, em duas viaturas ligeiras: um geep willys e um unimog, a patrulha percorreu primeiro vários quilómetros de floresta, depois entrou em zona de savana, seguindo-se dezenas e dezenas de quilómetros de pradaria de capim rasteiro, depois novamente savana, novamente floresta e finalmente o grande obstáculo a transpor - o Rio Chinjongo, um afluente do Luena que, como ele, corre de poente para nascente, quase paralelamente, mas em convergência, para se encontrarem definitivamente e misturarem as suas águas, até encontrar o grande Zambeze.

Durante o trajecto, a patrulha teve ocasião de observar os encontros mais inesperados, desde as majestosas impalas, passando pelos traiçoeiros mabecos, os gregários e peregrinos guelengues, kakus ou bois-cavalo, raposas e leões da anhara, riscadas zebras e altíssimas girafas, até exóticas e desconhecidas aves, todos ali vivendo em franca harmonia, ou não fosse aquele território parte integrante da RESERVA da CAMEIA.

Em dado momento encontrou a patrulha um numeroso grupo de homens, cada um com sua carga, acondicionada a seu jeito de modo a tornar-se menos penoso o seu transporte. Eram agricultores/carregadores da chana, que se dirigiam a Lumbala, para vender o produto das suas colheitas: amendoim, milho, mel, peles e peixe seco. Em Lumbala aguardava-os o único comerciante existente, um tal Pires, que era o único europeu além dos militares e a quem já fizemos referência noutro local.

Esta fotografia é rica em elementos de análise:

- Repare-se no capim novo que vem a rebentar depois das queimadas (estávamos no fim da época seca, o “cacimbo”, cuja humidade é suficiente para fazer rebentar o capim para felicidade de todos os bichos);

- O sol tinha nascido há pouco tempo e a temperatura era baixa, (ver as sombras das pessoas e objectos e as luvas do Chefe do Posto, bem como o capote do Cipaio MUKUANA SUNGI, em primeiro plano);

- Repare-se ainda na ausência de caminho: a foto foi tirada no local por onde passámos e a progressão fazia-se livremente por qualquer lado; às vezes havia um trilho de pé-posto.

O Sobado de CHINJONGO, ficava na margem esquerda do rio do mesmo nome e era necessário atravessá-lo, para atingir o destino. Mas estava tudo previsto. O Soba ordenara aos seus homens que preparassem a travessia do rio para a patrulha poder lá chegar

Ao atingir o rio, deparou-se-nos o inacreditável: uma ponte sobre um rio com mais de cinquenta metros de largura, toda feita sobre estacas e paus transversais, entrelaçados uns aos outros com cascas de árvore, distando em altura, cerca de meio metro da superfície espelhada da água do rio. Por esta "ponte" as duas viaturas teriam de passar, e assim aconteceu. (as fotografias que se seguem são bem esclarecedoras).





Aspecto do Rio Chinjongo.

Como se vê a largura do rio é grande, se bem que a ponte foi feita em local onde o rio é mais estreito, mesmo assim eram uns bons cinquenta metros e as viaturas bambuleavam sobre aquele entrançado de paus e cascas de árvore que parecia flutuar sobre as águas calmas do rio.



A chegada ao sobado de Chinjongo, foi qualquer coisa de espectacular. Danças e cânticos, com sons estridentes das mulheres e os característicos batuques, por equipas de homens bem amestrados no ofício.
Finalmente o Soba CHINJONGO. Era um homem a rondar o 50 anos, muito bem apresentado na sua farda de caqui amarelo impecável, que se fazia acompanhar de numerosos súbditos, todos bem trajando, com destaque para as cores garridas dos vestidos das mulheres.
Claro que a parte central da festa foi a cerimónia do içar da Bandeira Nacional, que decorreu com uma solenidade inexcedível de respeito patriótico.


Os militares misturaram-se com os populares e deram largas à aprendizagem das danças de batuque com ritmos que só eles sabem executar. Aqui, em primeiro plano, está o Barbeiro, soldado nº 1497/60, Magalhães, natural de Venda Nova,Montalegre, num soberbo "pas de deux" com um dançarino local.

Depois de uma tarde de danças populares e óptimo convívio dos militares com as populações de Chinjongo, sem esquecer o apoio sanitário prestado pelo enfermeiro militar, e que hoje foi mínimo, pois tudo era festivo, não havendo lugar para doenças.

Chegada a hora do regresso a Lumbala, depois de transposto novamente o rio Chinjongo através daquela ponte bamboleante de paus entrelaçados com cascas de árvore, começou a aventura do regresso, durante o qual se fez noite, com os seus mistérios.

É assim que a dado momento a patrulha se vê como que no meio de uma cidade toda iluminada, em plena chana africana: era uma enorme manada de kakus e antílopes e outros herbívoros, talvez zebras e outros bichos, cujos olhos, reflectindo os faróis das viaturas, nos transmitiam essa sensação estranha, de estarmos no meio de uma grande cidade iluminada.

Passaria uma hora da meia noite quando a patrulha ao sobado de Chinjongo regressou ao aquartelamento de Lumbala, com a missão cumprida.


Blogger MVHorta disse...
Companheiro Vamos continuar a publicar posts com o mesmo entusiasmo tal como começamos? Vale? É que sempre que "tropeço" nas palavras Moxico, Alto Zambeze, Cameia, Lumbala, Cazombo, etc., tenho "ganas" de ler e escrever mais qualquer "coisinha"; "sentir" aquela imensa planície indescritível cheia de vida selvagem onde a natureza dita as regras sobre todos os animais incluindo os humanos, é deslumbrante! Ter estado presente em algumas deslocações e nos patrulhamentos a que te referes no post, sempre com a preocupação de: onde iremos ficar hoje? Há alojamento? Será que existe comida? Chegaremos realmente a atingir o objectivo que é de chegarmos ainda de dia ao acampamento X ou Y? No itinerário traçado... só se avista pântano e o Sol escaldante começa a cair!... e os jeeps a balançar ao ritmo dos troncos ensopados lá vamos atravessando rios, lagos e chanas mas, se deixarmos anoitecer, ficamos rodeados de elefantes, leões e hienas! Contudo, quando é possível chegar ao acampamento previsto, toma-se o duche... ao luar e ouve-se a floresta!... Que delícia!!!... Espectáculo.
5 de Abril de 2010 02:18

Transposição do Zambeze - Viaturas sobre jangadas de canoas

Para levar a efeito as acções de reconhecimento e exploração na margem direita do Grande Zambeze tornou-se necessário transferir viaturas para transporte de pessoal.

Seguem-se duas fotos dessas manobras de transposição sobre jangadas de canoas, em condições muito rudimentares, como mostram as fotos.

A primeira viatura transposta foi um Jeep Wyllis sem capota, aqui a largar da margem esquerda do Zambeze.

Em seguida foi a vez de um Unimog que aqui se vê já em manobras de acostagem à margem direita. Os soldados foram ajudados nessas manobras pelos cipaios, (agentes policiais do administrador local).