sábado, 24 de abril de 2010

O que andamos lá a fazer?!


Ponte Marechal Carmona sobre o Zambeze próximo de Cazombo, junto à "Gafaria".

Foto tirada em 1962


Ruinas da mesma ponte, depois da guerra fratricida entre Unita e MPLA

O que andamos lá a fazer???!!!

Pela sua oportunidade e clareza, aqui fica este testemunho de Armando Monteiro, e que fui repescar à "COMUNIDADE LUENA", com a devida vénia:
"...é tempo de vir ao terreiro sem complexos e reconhecer publicamente que Portugal um dia pediu aos seus melhores filhos que passassem dois anos da sua juventude numa guerra em África para a qual não se ofereceram, deram o seu melhor, ao soldado não compete julgar da razão da guerra, ainda assim esse soldado acreditou na causa que defendia, talvez na sua ingenuidade, acham que foi enganado? pois então digam-lhe isso mesmo, que eu digo que acima de tudo isso sobre veio o seu valor e esse não pode ser posto em causa. Não se trata aqui de exaltar guerra alguma, todas as guerras são, foram e serão discutíveis, trata-se de uma dívida que este país tem para com uma geração que participou na guerra.
...Eu não sou belicista porque andei na guerra, eu não sou pacifista porque os pacifistas atraem as guerras, o bárbaro não os respeita e usa-se deles. Havia intelectuais com as suas ideias, com medo, uns fugiram para Paris, e foram mobilizados nas teias que buscavam dissidentes, foram promovidos a intelectuais, sendo intelectuais todos aqueles que bons alunos sabiam captar e estar aptos a difundir as ideias que lhes pregavam, que por sua vez iam difundido. Outros defendiam a ideia da liberdade dos povos, povos que nunca conheceram, mas estavam atentos aos ventos que chegavam, prontos a explorar qualquer mal entendido, qualquer coisa menos correcta que acontecesse, eram os puritanos da sociedade, os defensores de uma sociedade justa,de uma pátria dos trabalhadores...onde estão essas vozes críticas já que hoje no mesmo terreno grassam os ditadores, a corrupção a exploração do homem pelo homem...frase a cuja simples alusão fazia deles intelectuais? Já não há verbas para distribuir, já não há recados dos "mestres"? ...pois eu digo que conduziram povos inteiros à desgraça, são co-responsáveis pela morte de centenas de milhares de cidadãos...mas calam-se, essas vozes desapareceram...
Mas a mim mais de uma vez homens que comigo participaram naquela guerra, me perguntam: O que é que andámos lá a fazer? Pois eu hoje vou responder-vos, andámos a manter a paz, mesmo fazendo a guerra...não fossemos nós e teriam alastrado os genocídios gerados pelas frentes que os diversos interesses internacionais geraram, alastraram por toda a África, e voltaram a alastrar logo que Portugal retirou. Novamente aqui os intelectuais...devo dizer-vos que havia um plano em execução para levar Angola à independência, urgia que sabotar esse plano e alguns traidores o fizeram, para entregar África a outra potência estrangeira...pesa-lhes na consciência as centenas de milhares de mortos que a sua atitude causou? Terão consciência? Talvez não, eram intelectuais e só queriam o bem estar dos povos...
...mas graças a TI e a mim um dia, lá longe, no sítio mais a leste de Angola, onde a bandeira portuguesa significava paz e protecção às populações, tive o prazer de ver este cartaz, que um aluno orgulhoso do seu saber colou na parede da sua cubata:
E isto só foi possível com o teu sacrifício, deves ter orgulho da tua missão e nunca deixes que o teu valor seja posto em causa, poderás ter visto algumas coisas de que não gostaste, mas também conviveste com um povo com quem te deste bem, todos temos boas recordações e algumas menos boas, mas Zecas Antónios ficaram por lá muitos, graças a ti, foi isto que estivémos lá a fazer..."

Armando Monteiro