domingo, 23 de agosto de 2009

Primeira visita do Cmdt da CC 115 a Lumbala

Em meados de Junho de 1962 o Comandante da Companhia de Caçadores 115, sediada em Cazombo, visitou o 3ºPelotão destacado em Lumbala, para se inteirar das condições de alojamento e tratar de outros assuntos relativos à parte operacional.

Dado o bom relacionamento que já se verificava com a autoridade administrativa e com as autoridades tradicionais, (chamadas então gentílicas ou indígenas), foram todos convidados a comparecer à recepção ao Senhor Capitão Alípio Emílio Tomé Falcão que se fez acompanhar de sua Esposa D. Lola Falcão. Compareceram pelo menos uma boa dúzia de Sobas, desde o Kakengue de Chilombo, (Luena ou Caluvale), até ao grande Soba Xinde de Calunda e Macondo, (Quiôco ou Catchôque). Estes dois grandes Sobas, juntamente com a Soba de Lumbala, fizeram com que facilmente os outros Sobas menores lhes seguissem o exemplo, comparecendo em grande número.

Aqui vemos o Capitão Falcão cumprimentando o Soba Xinde que lhe é apresentado pelo Administrador do Posto de Lumbala, Sr. Santana.

Aqui cumprimenta os Ganguelas: depois de ter cumprimentado o Ganguela do Soba Xinde,( de fato escuro ao centro), cumprimenta o Ganguela do Soba Caquengue, (vestindo de branco), sempre com apresentação do Administrador de Posto. Kamangala, assim se chamava este Ganguela, era uma individualidade preponderante entre os povos das margens do Zambeze: Kilombo ou Xilombo, sede do sobado de Kakengue, era um entre-posto importante de comércio de peixe sêco, fuba (mandioca), mel cêra e peles, etc, predominando o peixe sêco exportado para o Congo e Katanga.

Depois estavam os populares e seguiu-se como que a parte lúdico-religiosa da recepção, com a apresentação dos "Muquixe", dois figurantes alegóricos, representando as forças da natureza e animistas ou mesmo do bem e do mal, que fazem parte da cultura destes povos.
Os nativos tem grande respeito, senão mêdo, por estas figuras aterrorizadoras.
Os soldados e os guardas fiscais do Posto de Caripande, que também compareceram, misturam-se com os "Muquixe", sem receio dos seus malefícios. Se fosse apenas uma figura seria um R'iquixe, no singular, como são duas, plural, Muquixe.
Esta circunstância da formação do plural das palavras com o prefixo "m", leva-me a fazer a interpretação do nome da cidade de "MAPUTO". PUTO é Portugal, Maputo=Portugueses.
A palavra "maputo" de origem gentílica ou autoctune, deverá ter surgido quando dos primeiros contactos dos portugueses, (maputo, plural), com os povos locais.

Depois seguiu-se a aventura da travessia do Rio Zambeze, que o Capitão Falcão e o Chefe Costa da Guarda Fiscal parecem enfrentar com grande àvontade, enquanto a D. Lola e a Soba de Lumbala, (anfitriã, no caso), ocupam os seus lugares sentadas a meio da jangada de duas canôas.
Atente-se que a canôa ainda está atracada na margem, logo que largue os destemidos passageiros irão sentar-se também.

Chegados à margem direita do Grande Rio, onde uma grande multidão de populares dos Quimbos vizinhos os aguardava, percorrem, a pé umas centenas de metros até ao Posto Administrativo e à palhota que servia de aquartelamento.

Aqui aguardava o Pelotão (-) em formatura, que prestou a continência ao seu Comandante de Companhia, honra militar que lhe era devida nessa mesma qualidade.
Seguiu-se a visita e revista ao "aquartelamento" e os cumprimentos no Posto Administrativo.

Nota: O Noca não aparece nas fotografias porque, além de ser o Comandante do Destacamento, portanto com a responsabilidade por que tudo decorre bem, era também o fotógrafo de serviço, pelo que não pôde figurar nas imagens captadas.

1 comentário:

MVHorta disse...

SOBAS - AS AUTORIDADES TRADICIONAIS
Era (ainda é?) assim:
O soba era a cabeça da colectividade. Tudo quanto resolvia era em conjunto com os seus conselheiros. Estes também não tomavam qualquer iniciativa, nem resolviam casos importantes, sem prévio acordo do seu chefe.
Pela orgânica tribal e força da tradição, o soba era o chefe político; era o depositário do fogo puro e algumas vezes o patriarca. Era ele que presidia ao julgamento das causas individuais e colectivas.
Estas influências tradicionais e religiosas davam ao soba um prestígio inato que o acompanhavam mesmo quando afastado ou deposto.
Regra geral a sua sucessão era hereditária, cabendo ao primogénito da irmã mais velha a ocupação do cargo.
A linha feminina defendia a estirpe e os direitos de sangue pela evidência da maternidade.
Normalmente, os sobas eram do sexo masculino, todavia, também os havia do sexo feminino, especialmente entre o povo Luena (e outros).
Entretanto, alguns agregados políticos tradicionais evoluíram ou transformaram-se em regedorias. A investidura dos regedores, dependia, porém, de homologação dos governadores de distrito.
Muito há que dizer acerca do distrito do Moxico e do seu povo (luena), da sua história, da sua riqueza, das suas belezas naturais e da sua etnografia.
A passo seguro, o NOCA, continua naturalmente a desenvolver este excelente trabalho.
Parabéns AMIGO.