terça-feira, 14 de setembro de 2010

Manuel Valadas Horta - Cabo Horta

Vamos recordá-lo nos seus vinte e um anos, em 1961/62, em Angola


Aqui, com 0 grupo dos Rádio Telegrafistas da Companhia, (CC 115)

Aqui num momento de descontracção, provavelmente no Cacuaco

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A última batalha do guerreiro - Homenagem

Foi ontem o funeral do grande e bom Amigo
MANUEL VALADAS HORTA!
Despediu-se há menos de três meses, pedindo que não enviássemos e-mails para a sua caixa de correio electrónico enquanto ele não regressasse de férias e fizesse a sua apresentação. Infelizmente já não se apresentou: após breves dias de férias, foi acometido por lesão cerebral que não perdoa e, em breves dias, pouco mais de dois meses, sobre veio a morte implacável.
Foi uma batalha "breve", mas muito dura, porque o seu estado físico/corporal era excelente. Durante todos os exames efectuados não lhe foi encontrado nada na parte corporal: com os seus setenta anos, praticava desporto físico diariamente e era exemplo para pessoas mais jovens.
A par da actividade física dedicava-se também a tarefas intectuais muito exigentes: como homem das Transmissões e Comunicação, acompanhou o evoluir desse mundo maravilhoso da tecnologia comunicacional, correspondendo-se com vários amigos e criando dois blogs no mundo virtual da internet, onde expôs os seus conhecimentos e deixou um espólio valioso, de elementos da Polícia de Segurança Pública, que serviu com total dedicação e grande galhardia.
Como coleccionista era detentor de colecções de sêlos e notas antigas e actuais de Angola, onde serviu na PSP angolana, na década de 70.
Pessoalmente sinto uma grande falta do Manuel Valadas Horta, porque ele era um estímulo e incentivo permanente para que eu próprio fizesse qualquer coisa para dar a conhecer os feitos da Companhia de Caçadores 115, (CC 115), a que pertencemos. Este blog, CC 115.1, continuação do CC 115, deve muito à sua colaboração.
O Manuel Valadas Horta será sempre lembrado por nós, com o maior respeito e carinho e muita saudade.
O seu blog A Polícia, o Passado e o Presente, http://mvhorta.blogspot.com/ é um valiosíssimo repositório que aconselho todos a visitarem, nomeadamente quem se interesse pela história da PSP.
Deixa ainda outro blog denominado A Minha Tropa, Anos "60", http://valhor.blogspot.com/ , mais pessoal e virado para si próprio, mas onde refere elementos importantes sobre sua intervenção na Guerra em Angola.
Neste momento doloroso de despedida, digo-te apenas:
Até sempre Companheiro!

sábado, 1 de maio de 2010

sábado, 24 de abril de 2010

O que andamos lá a fazer?!


Ponte Marechal Carmona sobre o Zambeze próximo de Cazombo, junto à "Gafaria".

Foto tirada em 1962


Ruinas da mesma ponte, depois da guerra fratricida entre Unita e MPLA

O que andamos lá a fazer???!!!

Pela sua oportunidade e clareza, aqui fica este testemunho de Armando Monteiro, e que fui repescar à "COMUNIDADE LUENA", com a devida vénia:
"...é tempo de vir ao terreiro sem complexos e reconhecer publicamente que Portugal um dia pediu aos seus melhores filhos que passassem dois anos da sua juventude numa guerra em África para a qual não se ofereceram, deram o seu melhor, ao soldado não compete julgar da razão da guerra, ainda assim esse soldado acreditou na causa que defendia, talvez na sua ingenuidade, acham que foi enganado? pois então digam-lhe isso mesmo, que eu digo que acima de tudo isso sobre veio o seu valor e esse não pode ser posto em causa. Não se trata aqui de exaltar guerra alguma, todas as guerras são, foram e serão discutíveis, trata-se de uma dívida que este país tem para com uma geração que participou na guerra.
...Eu não sou belicista porque andei na guerra, eu não sou pacifista porque os pacifistas atraem as guerras, o bárbaro não os respeita e usa-se deles. Havia intelectuais com as suas ideias, com medo, uns fugiram para Paris, e foram mobilizados nas teias que buscavam dissidentes, foram promovidos a intelectuais, sendo intelectuais todos aqueles que bons alunos sabiam captar e estar aptos a difundir as ideias que lhes pregavam, que por sua vez iam difundido. Outros defendiam a ideia da liberdade dos povos, povos que nunca conheceram, mas estavam atentos aos ventos que chegavam, prontos a explorar qualquer mal entendido, qualquer coisa menos correcta que acontecesse, eram os puritanos da sociedade, os defensores de uma sociedade justa,de uma pátria dos trabalhadores...onde estão essas vozes críticas já que hoje no mesmo terreno grassam os ditadores, a corrupção a exploração do homem pelo homem...frase a cuja simples alusão fazia deles intelectuais? Já não há verbas para distribuir, já não há recados dos "mestres"? ...pois eu digo que conduziram povos inteiros à desgraça, são co-responsáveis pela morte de centenas de milhares de cidadãos...mas calam-se, essas vozes desapareceram...
Mas a mim mais de uma vez homens que comigo participaram naquela guerra, me perguntam: O que é que andámos lá a fazer? Pois eu hoje vou responder-vos, andámos a manter a paz, mesmo fazendo a guerra...não fossemos nós e teriam alastrado os genocídios gerados pelas frentes que os diversos interesses internacionais geraram, alastraram por toda a África, e voltaram a alastrar logo que Portugal retirou. Novamente aqui os intelectuais...devo dizer-vos que havia um plano em execução para levar Angola à independência, urgia que sabotar esse plano e alguns traidores o fizeram, para entregar África a outra potência estrangeira...pesa-lhes na consciência as centenas de milhares de mortos que a sua atitude causou? Terão consciência? Talvez não, eram intelectuais e só queriam o bem estar dos povos...
...mas graças a TI e a mim um dia, lá longe, no sítio mais a leste de Angola, onde a bandeira portuguesa significava paz e protecção às populações, tive o prazer de ver este cartaz, que um aluno orgulhoso do seu saber colou na parede da sua cubata:
E isto só foi possível com o teu sacrifício, deves ter orgulho da tua missão e nunca deixes que o teu valor seja posto em causa, poderás ter visto algumas coisas de que não gostaste, mas também conviveste com um povo com quem te deste bem, todos temos boas recordações e algumas menos boas, mas Zecas Antónios ficaram por lá muitos, graças a ti, foi isto que estivémos lá a fazer..."

Armando Monteiro

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Patrulha ao Sobado de CHINJONGO

Após a transferência das viaturas para a margem esquerda do Zambeze, estavam reunidas as condições para iniciar a exploração do vasto território que se estende de Lambala até Lucusse.
Numa primeira patrulha vamos visitar o Soba CHINJONGO, cujo Sobado está localizado num ponto estratégico de passagem entre Luena,(norte de Cameia) e a grande região do Lunguébungo, a sul e que dá ligação à Zambia.
Mas continuemos o nosso percurso até ao Sobado de Chinjongo. Só lá podemos ir na época seca.
Vamos percorrer a grande "chana"• do Lucusse, delimitada a norte pelo Luena, a sul pelo Lumbala, a nascente pelo Zambeze, de que os outros dois rios são afluentes pela margem direita, e a poente pelas terras de Lucusse.
• Nota: -"chana" ou "anhara" (grande planície sem alterações de cota de nível, que, na época das chuvas, fica totalmente submersa por um lençol de cerca de meio metro de água que extravasa dos rios limítrofes e onde se reproduzem peixes que, em escassos dois meses ou menos, atingem dimensões e quantidades verdadeiramente fenomenais).

Com partida pela madrugada, em duas viaturas ligeiras: um geep willys e um unimog, a patrulha percorreu primeiro vários quilómetros de floresta, depois entrou em zona de savana, seguindo-se dezenas e dezenas de quilómetros de pradaria de capim rasteiro, depois novamente savana, novamente floresta e finalmente o grande obstáculo a transpor - o Rio Chinjongo, um afluente do Luena que, como ele, corre de poente para nascente, quase paralelamente, mas em convergência, para se encontrarem definitivamente e misturarem as suas águas, até encontrar o grande Zambeze.

Durante o trajecto, a patrulha teve ocasião de observar os encontros mais inesperados, desde as majestosas impalas, passando pelos traiçoeiros mabecos, os gregários e peregrinos guelengues, kakus ou bois-cavalo, raposas e leões da anhara, riscadas zebras e altíssimas girafas, até exóticas e desconhecidas aves, todos ali vivendo em franca harmonia, ou não fosse aquele território parte integrante da RESERVA da CAMEIA.

Em dado momento encontrou a patrulha um numeroso grupo de homens, cada um com sua carga, acondicionada a seu jeito de modo a tornar-se menos penoso o seu transporte. Eram agricultores/carregadores da chana, que se dirigiam a Lumbala, para vender o produto das suas colheitas: amendoim, milho, mel, peles e peixe seco. Em Lumbala aguardava-os o único comerciante existente, um tal Pires, que era o único europeu além dos militares e a quem já fizemos referência noutro local.

Esta fotografia é rica em elementos de análise:

- Repare-se no capim novo que vem a rebentar depois das queimadas (estávamos no fim da época seca, o “cacimbo”, cuja humidade é suficiente para fazer rebentar o capim para felicidade de todos os bichos);

- O sol tinha nascido há pouco tempo e a temperatura era baixa, (ver as sombras das pessoas e objectos e as luvas do Chefe do Posto, bem como o capote do Cipaio MUKUANA SUNGI, em primeiro plano);

- Repare-se ainda na ausência de caminho: a foto foi tirada no local por onde passámos e a progressão fazia-se livremente por qualquer lado; às vezes havia um trilho de pé-posto.

O Sobado de CHINJONGO, ficava na margem esquerda do rio do mesmo nome e era necessário atravessá-lo, para atingir o destino. Mas estava tudo previsto. O Soba ordenara aos seus homens que preparassem a travessia do rio para a patrulha poder lá chegar

Ao atingir o rio, deparou-se-nos o inacreditável: uma ponte sobre um rio com mais de cinquenta metros de largura, toda feita sobre estacas e paus transversais, entrelaçados uns aos outros com cascas de árvore, distando em altura, cerca de meio metro da superfície espelhada da água do rio. Por esta "ponte" as duas viaturas teriam de passar, e assim aconteceu. (as fotografias que se seguem são bem esclarecedoras).





Aspecto do Rio Chinjongo.

Como se vê a largura do rio é grande, se bem que a ponte foi feita em local onde o rio é mais estreito, mesmo assim eram uns bons cinquenta metros e as viaturas bambuleavam sobre aquele entrançado de paus e cascas de árvore que parecia flutuar sobre as águas calmas do rio.



A chegada ao sobado de Chinjongo, foi qualquer coisa de espectacular. Danças e cânticos, com sons estridentes das mulheres e os característicos batuques, por equipas de homens bem amestrados no ofício.
Finalmente o Soba CHINJONGO. Era um homem a rondar o 50 anos, muito bem apresentado na sua farda de caqui amarelo impecável, que se fazia acompanhar de numerosos súbditos, todos bem trajando, com destaque para as cores garridas dos vestidos das mulheres.
Claro que a parte central da festa foi a cerimónia do içar da Bandeira Nacional, que decorreu com uma solenidade inexcedível de respeito patriótico.


Os militares misturaram-se com os populares e deram largas à aprendizagem das danças de batuque com ritmos que só eles sabem executar. Aqui, em primeiro plano, está o Barbeiro, soldado nº 1497/60, Magalhães, natural de Venda Nova,Montalegre, num soberbo "pas de deux" com um dançarino local.

Depois de uma tarde de danças populares e óptimo convívio dos militares com as populações de Chinjongo, sem esquecer o apoio sanitário prestado pelo enfermeiro militar, e que hoje foi mínimo, pois tudo era festivo, não havendo lugar para doenças.

Chegada a hora do regresso a Lumbala, depois de transposto novamente o rio Chinjongo através daquela ponte bamboleante de paus entrelaçados com cascas de árvore, começou a aventura do regresso, durante o qual se fez noite, com os seus mistérios.

É assim que a dado momento a patrulha se vê como que no meio de uma cidade toda iluminada, em plena chana africana: era uma enorme manada de kakus e antílopes e outros herbívoros, talvez zebras e outros bichos, cujos olhos, reflectindo os faróis das viaturas, nos transmitiam essa sensação estranha, de estarmos no meio de uma grande cidade iluminada.

Passaria uma hora da meia noite quando a patrulha ao sobado de Chinjongo regressou ao aquartelamento de Lumbala, com a missão cumprida.


Blogger MVHorta disse...
Companheiro Vamos continuar a publicar posts com o mesmo entusiasmo tal como começamos? Vale? É que sempre que "tropeço" nas palavras Moxico, Alto Zambeze, Cameia, Lumbala, Cazombo, etc., tenho "ganas" de ler e escrever mais qualquer "coisinha"; "sentir" aquela imensa planície indescritível cheia de vida selvagem onde a natureza dita as regras sobre todos os animais incluindo os humanos, é deslumbrante! Ter estado presente em algumas deslocações e nos patrulhamentos a que te referes no post, sempre com a preocupação de: onde iremos ficar hoje? Há alojamento? Será que existe comida? Chegaremos realmente a atingir o objectivo que é de chegarmos ainda de dia ao acampamento X ou Y? No itinerário traçado... só se avista pântano e o Sol escaldante começa a cair!... e os jeeps a balançar ao ritmo dos troncos ensopados lá vamos atravessando rios, lagos e chanas mas, se deixarmos anoitecer, ficamos rodeados de elefantes, leões e hienas! Contudo, quando é possível chegar ao acampamento previsto, toma-se o duche... ao luar e ouve-se a floresta!... Que delícia!!!... Espectáculo.
5 de Abril de 2010 02:18

Transposição do Zambeze - Viaturas sobre jangadas de canoas

Para levar a efeito as acções de reconhecimento e exploração na margem direita do Grande Zambeze tornou-se necessário transferir viaturas para transporte de pessoal.

Seguem-se duas fotos dessas manobras de transposição sobre jangadas de canoas, em condições muito rudimentares, como mostram as fotos.

A primeira viatura transposta foi um Jeep Wyllis sem capota, aqui a largar da margem esquerda do Zambeze.

Em seguida foi a vez de um Unimog que aqui se vê já em manobras de acostagem à margem direita. Os soldados foram ajudados nessas manobras pelos cipaios, (agentes policiais do administrador local).