segunda-feira, 9 de junho de 2008

CC 115 - Luena e Teixeira de Sousa

LUSO (LUENA) - 17MAI62
Em 17 de Maio chegámos ao Luso, (Luena), cidade muito airosa, com grande actividade comercial, onde se foi sedear o Comando do Batalhão 114, cujo Comandante, Tenente Coronel Oliveira Rodrigues, assumiu tambem o comando da ZIL, (Zona de Intervenção Leste) .
A ZIL era constituída por dois distritos: Lunda, com a capital em Henrique de Carvalho, e Moxico, com a capital no Luso (Luena).
















TEIXEIRA DE SOUSA - 18 a 20 de MAI62
Após uma paragem prolongada por cerca de meio dia, separámo-nos do Comando do Batalhão, que ficou no Luso, como disse, e da CC 117, que se dirigiu para sul, para Gago Coutinho e Cangamba, por Lucusse.
As duas companhias de caçadores: CC 115 e CC 116, seguiram viagem rumo a Teixeira de Sousa, a mais de 300 quilómetros dali. Tivemos então oportunidade de percorrer aquilo que deveria ter sido a maior recta do mundo em caminho de ferro, mas não o foi, apenas para não exceder a que ainda o é e se situa nas planuras do vale do Mississipe, nos Estados Unidos. A companhia construtora do caminho de ferro de Benguela foi a mesma da América e não quis exceder aquela. Por esse motivo foi feita uma curva à entrada de Lumege, sem qualquer necessidade, mas propositadamente para interromper a super recta da Cameia.
Isto é notícia que corria entre as pessoas que se diziam bem informadas, na zona.
"Se não for verdade, pode ser", portanto podemos acreditar, porque estamos em África e ali, tudo pode acontecer.
Teixeira de Sousa, (hoje LUAU), era uma povoação comercial, localizada num ponto estratégico de comunicações entre regiões riquíssimas em minérios como a Lunda e o Katanga e ainda o Alto Zambeze onde predominava outra riqueza, esta mais imediata e não menos importante, por dali saír a alimentação para a maior parte dos povos da Lunda, Katanga e Congo: o famoso PEIXE SÊCO das anharas ou chanas· da Cameia, Lucusse, Lumege, Chinjongo, Kavungo, (sede da Rainha Luena NHACATOLO), Macondo e Lumbala, até ao Lungué-Bungo.
Ali “chuvia” peixe! Isto é, durante os cerca de três a quatro meses de época de chuvas, todo o Alto Zambeze fica submerso.
Os rios transbordam e as águas inundam quilómetros e quilómetros de planalto, desenvolvendo-se aí uma actividade curiosíssima: os peixes surgem sem se saber donde, por isso dizemos que “chovem”, e crescem rapidamente em poucos dias. Então os autóctones fazem grandes cercados com paus espetados na lama e entrelaçados com capim, que formam viveiros enormes de peixes. Nessas cercas deixam pequenas aberturas, nas quais fazem depois armadilhas com esteiras de capim, onde apanham peixe às toneladas, logo que as águas começam a descer. Antes da descida das águas já vão apanhando peixe nas cercas, mas com arco e flechas. Esta tem sido, durante séculos a base da alimentação dos povos nativos da região, bem como dos povos vizinhos, do Congo e norte de Angola, para onde exportam em quantidades industriais,

· Anhara ou Chana – zona plana livre de floresta, coberta de capim com 0,50 a 1,00 metro, coberta de água durante cerca de metade do ano.
Mais uma colaboração do Subintendente V.Horta muito oportuna
O Distrito do Moxico - Leste de Angola:

Do Luso (hoje Luena), continuamos em direcção a Teixeira de Sousa (Luau), onde a cada momento, nos surpreendemos. Para quem estava habituado a ver, no Norte de Angola, uma floresta cerrada, cada árvore entrelaçando as ramagens com outras árvores congéneres, gigantescos maciços de árvores, de um verde carregado e sombrio onde a luz não penetra e onde se desenvolvem, na meia obscuridade, os fetos os musgos e as trepadeiras, de repente, depara-se com o terreno nu da anhara.
É assim a "anhara da Cameia" que tem uns trezentos quilómetros de comprimento.
O chão é arenoso, coberto de capim ralo, sem arbustos, sem árvores. Na época do calor, começam as chuvas torrenciais; as bátegas caem umas atrás das outras, com violência e continuidade; a anhara inunda-se; nas suas depressões aparecem logo pequenos charcos e lagos, e, nesse lagos, não tardam a surgir peixes miúdos que abundam em toda a anhara - até parece "chover peixe"; os naturais apanham-no, espalmam-no e secam-no ao sol; o peixe, depois de seco, fica escuro, luzidio e duro.
Finda a época das chuvas, principia o cacimbo, a estação seca. Do céu não cai um pingo de chuva. Por fim o terreno seca e surge o capim tenro, muito apreciado pelos antílopes e bovídeos. A anhara é uma pastagem.
Quem não se lembra daquele espectacular panorama visto do comboio em andamento, as grandes manadas bravas de cabras de leque, zebras, pacaças, palancas de grandes hastes, etc.

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