segunda-feira, 9 de junho de 2008

CC 115 na Guerra de Angola - II Parte

SEGUNDO ANO DA MOBILIZAÇÃO


Deslocamento para a ZIL (N/M Quanza) 14/16MAI62

A viagem de Luanda para o Lobito foi feita no N/M QUANZA, em condições semelhantes ou piores do que as do NIASSA, mas com a vantagem de ser apenas uma noite de viagem.
Portanto não custou nada e até foi divertido.



O N/M QUANZA era uma espécie de irmão mais velho do NIASSA, como ele desconfortável, pois se tratava de um navio misto, para transporte de pessoal e carga diversa. Também os seus porões foram convertidos em alojamento para transporte de tropas.


































A chegada e desembarque no Lobito, foi de todo agradável, especialmente devido à beleza natural que envolve toda a baía e a restinga, onde a vegetação tropical apresenta aspectos paradisíacos, convidando a um passeio que não dispensámos.Em pequenos grupos, uns em carros particulares que se arranjaram junto da população civil, outros em carros de aluguer, muitos de nós deslocaram-se até à ponta da restinga, admirando as vivendas que ali existiam, ladeando a estrada e interpondo-se às praias de ambos os lados daquela formosa língua de terra que resguarda o seguro Porto do Lobito.
Seguiu-se depois a travessia de Angola de lés a lés, pelo Caminho de Ferro de Benguela, que, desde o Lobito por Benguela, Nova Lisboa, Silva Porto e Luso, vai até Teixeira de Sousa, junto à fronteira do Katanga.Foi uma viagem que não esqueceremos.








Na transição do litoral para o planalto interior de Angola, atravessa-se uma região árida e agreste, como esta foto documenta. Esta parece uma paisagem lunar. Lá no planalto tudo se-rá diferente. Aí há terras gordas e produtivas e povoações alegres e cheias de vida.Um comboio enorme, composto por grande número de carruagens para transporte de pessoal e material, nomeadamente viaturas entre as quais carros de combate, puxado por duas potentes locomotivas, lá foi subindo devagar, desde o nível do mar até aos mais de 1.500 metros do planalto interior.

Já no planalto central de Angola a paisagem torna-se momumental pela largueza do horizonte e pelos acidentes oro-topográficos que se avistam. Aqui, por exemplo é um enorme rochedo que se destaca no horizonte.Nas curvas da linha via-se a enorme composição a serpentear, subindo as encostas povoadas de grandes matas de eucaliptos, reserva energética do Caminho de Ferro de Benguela, do tempo das máquinas a vapor.

Viagem descrita na primaira pessoa pelo Subintendente Valadas Horta

Luanda ( no N/M Quanza), Lobito.

Lobito (nos CFB), Catumbela, Maria, Damba Maria, Benguela, Cubal (mais ou menos nesta zona, o comboio, nas subidas, deslocava-se muito "devagariiinho...". Um ou outro companheiro deslocava-se de carruagem em carruagem, descia do comboio em movimento, apanhava algumas peças de fruta junto da linha e, com a ajuda dos colegas subia para uma das carruagens que só transportava viaturas, e, toca a distribuir a fruta pela "malta". Era uma alegria!!! A propósito da deslocação das viaturas no comboio, o meu "bilhete de transporte..." deu para ir sentado (quase 3 dias?) num jeep descapotável que seguia numa das carruagens; só que a minha mala (de cartão... claro!) com as roupas incluindo o blusão, ficou algures noutra carruagem que transportava todas as bagagens. Na zona planáltica, durante a noite, fazia um frio de rachar. Ainda hoje, quando falo de temperatuas baixas, ocorre-me de imediato o frio que passei nessa viagem. Precisamente em Angola!...), Ganda, Caála, Nova Lisboa (Huambo), General Machado(Camacupa), Silva Porto (Kuito), Munhango, Cangonga, Cangumbe, Chicala, Luso (Luena), Léua, Cassai-Gare, Luacano, Mucussueje, Teixeira de Sousa (Luau), Cazombo - Gafaria, Caianda, Lumbala.
Se bem me lembro, o CFB ia do Lobito a Dilolo (ex-Congo Belga). Havia o "Rápido" e "Camacove". Este comboio parava em todas as estações e apeadeiros da linha. Algumas carruagens tinham cama, do tipo "camarata". O comboio além da utilidade de servir o interior de Angola, trazia o minério de cobre do Katanga até ao Lobito para ser embarcado para os altos fornos belgas - Bélgica.
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O Caminho de Ferro de Benguela (CFB), é a única linha ferroviária da África Central ao Atlântico. A sua construção, com origem numa Lei de Agosto de 1899, foi iniciada a 01Mar1903, tendo sido concluída em 02Fev1929. A 10Jun1931 chegou ao porto do Lobito o primeiro carregamento de cobre do Katanga.
A título de curiosidade, o contrato da concessão de exploração de 99 anos, atribuído à Companhia de Caminhos de Ferro de Benguela SARL, terminou no dia 28Nov2001, revertendo a favor do Estado Angolano todos os meios fixos e circulantes da Companhia.
Do Lobito ao Luau, por esta via, são 1 301 quilómetros.
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