segunda-feira, 9 de junho de 2008

CC 115 - Na quadrícula do Moxico

CAZOMBO
(Comando em Cazombo, Um Pel em Caianda e outro em Lumbala)


O deslocamento da CC 115 de Teixeira de Sousa para o Alto Zambeze em fins de Maio de 1962, foi outra odisseia. Fez-se em viaturas auto-rodas e demorou todo um dia de viagem, com paragens devido ao enterramento das viaturas nos areais da picada.








Este é o célebre Marco 25, ponto bem definido pelos demarcadores da fronteira entre Angola e Katanga, fazendo aqui um ângulo recto para nordeste, território de Katanga e um ângulo convexo de cerca de 270 graus para oeste e sul - Angola.
Perto ficava a bifurcação das picadas que levavam a Caianda, para leste, e a Cazombo, para sul.
Por esta seguimos rumo a Cazombo


Passando pelo Marco 25, ponto geodésico definido pelos demarcadores das fronteiras artificiais, nos princípios do século XX, aí tocámos a fronteira do Katanga que faz um vértice em ângulo recto, e continuámos para sul, passando CAVUNGO, sede do sobado da Rainha dos Luenas, NHACATOLO, só parando à noite, na GAFARIA, onde se instalou o Comando da Companhia, junto à ponte Marechal Carmona, sobre o Zambeze e perto de CAZOMBO.


Ponte MARECHAL CARMONA - sobre o Zambeze, em Cazombo

“GAFARIA” Em Cazombo, que serviu de quartel da CC 115 durante o ano que ali passou.
Foran introduzidos alguns melhoramentos, nomeadamente uma cozinha e refeitório, exactamente no local onde se vê um coberto de capim à esquerda.

Dois dias depois, o 1º Pelotão marchou para CAIANDA, a norte, na fronteira com Katanga e o 3º Pelotão marchou para LUMBALA, a sul, nas margens do Zambeze e a meio caminho de Caripande, Posto Fronteiriço com a Rodésia do Norte (actual ZAMBIA).

A viagem para Lumbala demorou outro dia e a chegada fez-se já noite cerrada.
Isso foi bom porque a travessia do Zambeze fez-se no escuro da noite, sobre jangadas de canôas, sem que o pessoal tivesse possibilidade de avaliar os riscos que corria ao transportar-se em tão frágeis e rudimentares meios de atravessamento do grande rio.
Foi depositada total confiança nos camaradas do Pelotão de Cavalaria, (Companhia de Cavalaria 148), que íamos render e nos serviram de guias e manobradores das canoas.
Só no dia seguinte nos apercebemos da realidade, mas agora, já confirmada pela travessia nocturna, era tudo fácil.
O quartel era uma coisa impensável: uma velha palhota indígena, construída em "pau a pique", coberto por capim, com duas divisões e uma entrada para um subterrâneo, onde se guardavam as munições, integrada num conjunto de palhotas, residências das mulheres dos Cipaios.














Eis o 3º Pelotão (-), aqui sob o comando do Sargento Guedes, em formatura para a ceimónia do içar da Bandeira, no dia 10 de Junho de 1962, frente àquilo a que se convencionou chamar aquartelamento.
Havia apenas três construções com caracter mais ou menos definitivo e que eram: a residência do Chefe do Posto Administrativo e onde funcionava a respectiva Administração, o Posto Sanitário e um comércio do Sr Pires, (um europeu cafrealizado).
Finalmente, havia uma palhota maior onde residia a Soba ou Sobisa, (não sei como se dirá, pois era uma mulher). O próprio Tribunal onde a Soba e os seus Conselheiros resolviam as questões do seu Povo, funcionava debaixo de uma Árvore Grande.
Isto na margem direita do rio Zambeze, junto à confluência do rio Lumbala, um lugar paradisíaco, mas muito desconfortável. Este local seria, mais tarde abandonado, isto é, desocupado, com a transferência da administração civil para novo Posto, construído de raiz, na margem esquerda do mesmo rio, e os militares viriam a instalar-se no novo aquartelamento, construído pelos próprios militares, igualmente na margem esquerda do rio, junto à estrada/picada que, de norte para sul, levava até Caripande.
Aqui nos instalámos, e começámos um novo modo de vida, agora quase normal, em contacto com as populações em regime de trabalho e de ócio.
Portanto a intervenção da tropa era equiparada a acções de polícia, com forte incidência no campo social e apoio sanitário às populações mais recônditas.

3 comentários:

Jo´se Barros disse...

Estive na Caianda em 1962 com um plutão do Grupo de Artilharia de Nova Lisboa. Viviamos numas palhotas abandonadas da Junta Automona de Estradas, e nós como furrieis milicianos, comiamos na messe da companhia 115. Bins tempos...
Jose Barros
(Furriel Miliciano)

jorge silva disse...

Estive em LUMBALA e CHILOMBO entre 1967 e 1969
Em LUMBALA- VELHA, onde já existia um aquartelamento construído em JCs de madeira
Em CHILOMBO, ocupava-mos umas velhas instalações; fazendo apoio à construção do
Quartel dos FUZILEIROS Especiais.
Tempos "duros"; mas que jamais esqueço.
Saudações !!!

NOCA disse...

Obrigado ilustres Maçaricos!!! Bem-vindos a este Blog
Saudações solidárias para todos os Camaradas.